14 junho 2005

diabo e democracia


É uma idéia que acaba de me surgir. Ainda não está amadurecida, não tenho noção de como exprimí-la por um texto e nem tenho a intenção de fazê-lo, mas é uma boa idéia e deve ser registrada.

Na verdade não é uma idéia, mas sim uma visão do mundo, uma ligação entre a imagem do diabo e a utilização da democracia. Ambos, ao meu ver, são utilizados como forma de negar nossas responsabilidades com o mundo ao nosso redor. O diabo é nosso bode-espiatório para todos nossos pecados, nossos erros morais e éticos. Ele é colocado como uma força superior com o poder/dever de corromper (e até controlar, em casos estremos) a vontade humana, fazendo com que ela tome decisões e pratique atos fora de sua vontade, que, naturalmente, é altruísta e sempre busca o bem. Não sou eu quem faz o mal, mas sim o diabo através de mim.

Da mesma forma, nós nos usamos da democracia (do governo do povo) para nos esquivar de nossas responsabilidades cívicas, de nossa cidadania. A democracia tem como princípio uma forma de governo controlada pela vontade da maior parte população, que opina e dirige o pais de forma a suprir suas necessidades. É claro que é impossível se debater e votar todas as decisões com todos os cidadãos (pessoas com direito ao voto), por isso, a população é representada por algumas poucas pessoas com a responsabilidade de defender os desejos e opiniões daquelas que a elegeram através do voto. Resumidamente, isso é a democracia. O que acontece depois é que o cidadão que elegeu outro cidadão para defendê-lo, coloca-se numa posição de irresponsabilidade (não mais se responsabilizando) aos seus deveres civís. O que acontece com meu bairro, minha cidade, meu estado, meu país não é mais de minha responsabilidade, mas sim do político ladrão e filha-da-puta que não é confiável. Nada mais é feito, o dever do cidadão se torna votar em alguma figurinha que lhe transmita a possibilidade de mudanças mágicas e depois culpá-la por não sentir estas transformações.

Como colocamos no diabo a culpa por nossos pecados morais, colocamos nos políticos a culpa pelos nossos pecados civís. Há duras penas aprendemos isso a cada dia. Mas eu, talvez inocente (prefiro cristão), ainda acredito no potêncial humano e digo que sinto mudanças.