Mundo Cão
Roberta Sudbrack, uma chefe de cozinha renomada mundialmente, escreveu um livro de receitas para caninos publicado no Brasil pela editora Senac. Em um pais onde a maior parte da população vive em condições precárias, muitas vezes faltando o básico para uma vivência digna e confortável, como a Brasil, a publicação de tal obra nos deixa de certa forma incomodados ao perceber que o bem estar canino é colocado acima das condições humanas, já que todas as 3.000 cópias da primeira tiragem já foram todas vendidas.
Não podemos acusar a autora, nem a editora de agirem de maneira incorreta - apesar desta ter sido a nossa primeira opinião - já que ambas tem em seu histórico projetos e trabalhos voltados para a melhoria da condição humana, e que (já que o livro esgotou sua tiragem) os lucros obtidos com o livro podem ser utilizados para bens maiores (como foi o caso do prêmio Nobel), algo que não sabemos. O ponto que realmente nos incomoda é saber que existem pessoas que se dispõe a pagar R$48,00 em um livro de receitas para seus animais de estimação, e o mais assustador é saber que essas pessoas prepararão as receitas para seus cachorros.
Certa vez, Lya Luft escreveu um texto em que dizia não se comover tanto com a morte de baleias do que com o sofrimento humano. As críticas despencaram em sua cabeça como avalanches de neve. Suas palavras exatas foram: "Não é que eu ache que sofrimento de animal não valha a pena, a solidariedade, o dinheiro. Mas eu preferia que tudo isso fosse gasto com eles depois de não haver mais crianças pedindo esmolas, adultos famintos, famílias morando embaixo de pontes e adolescentes morrendo drogados nas calçadas". Algo parecido aconteceu com Michael Moore e seu filme "Roger &Me" no qual há uma cena em que um coelho é morto seguida por uma cena de um doente mental negro sendo baleado. Michael diz que somente recebeu críticas a respeito da cena do coelho. Pelo que percebemos, nós nos preocupamos muito mais com os animais de outras espécies do que com a nossa. Por isso não podemos rotular a venda das 3.000 cópias do livro de gastronomia canina como algo anormal. Porém, podemos muito bem observá-lo como antiético, uma vez que entre os oito objetivos da ONU para o novo milênio (o Millenium Development Goals ¿ MDG), não existe nenhuma cláusula de proteção a nenhuma espécie animal, a não ser a humana.
Entendemos esse fenômeno de cuidados e mimos aos animais (especialmente os domésticos) como sendo fruto da sociedade moderna. Vivemos numa realidade de grandes expectativas e cobranças. Os nossos antigos valores são trocados a todo momento e como disse Marx e Berman "Tudo o que é sólido, desmancha no ar". O casamento é uma instituição falida; a estabilidade no emprego é praticamente nula; somos obrigados a mudar as nossas atitudes urgentemente com o meio ambiente pois estamos a beira de um colapso ambiental; a tecnologia avança tão rapidamente, nos fazendo sentir obsoletos e desnecessários; somos escravos de padrões estéticos que nos obrigam a negar a nossa própria genética; os grandes meios de comunicação de massa nos bombardeiam a todo momento com informações que remoem em nossas tripas, nunca nos permitindo descansar, pois ¿tempo é dinheiro¿. Tudo isso, o nosso ¿mundo cão¿ nos torna cada vez mais desconfiados, assustados e egoístas. Não podemos confiar em outros homens, nenhuma pessoa é confiável. Por isso, nossas necessidades afetivas muitas vezes são transmitidas para os nossos inocentes e amigáveis animais, que substituem o espaço das pessoas que estimamos, tornando-se de "estimação". Para a frieza do mundo, um caloroso abano de rabo esperando na porta de casa. Os animais não pedem muito, são carinhosos e compreensivos. É interessante observar que os mendigos e moradores de rua, possuidores de uma vida tão incerta como a nossa, também tem preferência por animais aos humanos, principalmente o cachorro, o mais carinhoso dos animais. Outra observação interessante é que os maiores casos de maus-tratos à animais são realizados por meninos em grupos em idade pré-adolescente, idade em que os laços de amizade são os mais fortes de toda vida masculina e em que as certezas da vida são absolutas.
Essa é a nossa realidade, um mundo onde os Pet Shops e outros serviços para animais cresce a cada dia, onde o Greenpeace é a ong mais conhecida no mundo, onde o "homem é o lobo do homem" e o "cão é o melhor amigo do homem". Um mundo com cada vez mais humanos e cada vez mais desumano.
Não podemos acusar a autora, nem a editora de agirem de maneira incorreta - apesar desta ter sido a nossa primeira opinião - já que ambas tem em seu histórico projetos e trabalhos voltados para a melhoria da condição humana, e que (já que o livro esgotou sua tiragem) os lucros obtidos com o livro podem ser utilizados para bens maiores (como foi o caso do prêmio Nobel), algo que não sabemos. O ponto que realmente nos incomoda é saber que existem pessoas que se dispõe a pagar R$48,00 em um livro de receitas para seus animais de estimação, e o mais assustador é saber que essas pessoas prepararão as receitas para seus cachorros.
Certa vez, Lya Luft escreveu um texto em que dizia não se comover tanto com a morte de baleias do que com o sofrimento humano. As críticas despencaram em sua cabeça como avalanches de neve. Suas palavras exatas foram: "Não é que eu ache que sofrimento de animal não valha a pena, a solidariedade, o dinheiro. Mas eu preferia que tudo isso fosse gasto com eles depois de não haver mais crianças pedindo esmolas, adultos famintos, famílias morando embaixo de pontes e adolescentes morrendo drogados nas calçadas". Algo parecido aconteceu com Michael Moore e seu filme "Roger &Me" no qual há uma cena em que um coelho é morto seguida por uma cena de um doente mental negro sendo baleado. Michael diz que somente recebeu críticas a respeito da cena do coelho. Pelo que percebemos, nós nos preocupamos muito mais com os animais de outras espécies do que com a nossa. Por isso não podemos rotular a venda das 3.000 cópias do livro de gastronomia canina como algo anormal. Porém, podemos muito bem observá-lo como antiético, uma vez que entre os oito objetivos da ONU para o novo milênio (o Millenium Development Goals ¿ MDG), não existe nenhuma cláusula de proteção a nenhuma espécie animal, a não ser a humana.
Entendemos esse fenômeno de cuidados e mimos aos animais (especialmente os domésticos) como sendo fruto da sociedade moderna. Vivemos numa realidade de grandes expectativas e cobranças. Os nossos antigos valores são trocados a todo momento e como disse Marx e Berman "Tudo o que é sólido, desmancha no ar". O casamento é uma instituição falida; a estabilidade no emprego é praticamente nula; somos obrigados a mudar as nossas atitudes urgentemente com o meio ambiente pois estamos a beira de um colapso ambiental; a tecnologia avança tão rapidamente, nos fazendo sentir obsoletos e desnecessários; somos escravos de padrões estéticos que nos obrigam a negar a nossa própria genética; os grandes meios de comunicação de massa nos bombardeiam a todo momento com informações que remoem em nossas tripas, nunca nos permitindo descansar, pois ¿tempo é dinheiro¿. Tudo isso, o nosso ¿mundo cão¿ nos torna cada vez mais desconfiados, assustados e egoístas. Não podemos confiar em outros homens, nenhuma pessoa é confiável. Por isso, nossas necessidades afetivas muitas vezes são transmitidas para os nossos inocentes e amigáveis animais, que substituem o espaço das pessoas que estimamos, tornando-se de "estimação". Para a frieza do mundo, um caloroso abano de rabo esperando na porta de casa. Os animais não pedem muito, são carinhosos e compreensivos. É interessante observar que os mendigos e moradores de rua, possuidores de uma vida tão incerta como a nossa, também tem preferência por animais aos humanos, principalmente o cachorro, o mais carinhoso dos animais. Outra observação interessante é que os maiores casos de maus-tratos à animais são realizados por meninos em grupos em idade pré-adolescente, idade em que os laços de amizade são os mais fortes de toda vida masculina e em que as certezas da vida são absolutas.
Essa é a nossa realidade, um mundo onde os Pet Shops e outros serviços para animais cresce a cada dia, onde o Greenpeace é a ong mais conhecida no mundo, onde o "homem é o lobo do homem" e o "cão é o melhor amigo do homem". Um mundo com cada vez mais humanos e cada vez mais desumano.
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