29 agosto 2006

Razão, Emoção e um tiquinho de Cabala

A idéia é simples: não se pode separar razão e emoção pois aquela é continuação desta. Agir somente pela emoção é expressar-se de forma crua, expondo-se a uma possibilidade maior de ser incompreendido. Enquanto agir puramente usando a razão é viver somente pela forma, pelas regras estéreis e sem vida. Em ambos os casos o resultado é a frustração. Eu entendi esse conceito durante uma conversa com a Natália, do banco, mas resolvi escrevê-lo quando conversei com a Bruninha. Então, dedico este texto às duas. Quem quiser parar por aqui, pode. Quem desejar ir um pouco mais a fundo, bem-vindo à bordo.

Um escritor, exemplificando, para escrever qualquer coisa, precisa, antes de nada, ser. Pode parecer besteira, mas quem não é, não escreve também. O ser é algo que se manifesta. É algo que tem personalidade e características únicas. O ser é aquele que se diferencia de outro ser. Então o nosso escritor é, e por ser, ele se expressa. O ato de se expressar, por si só, é algo incontrolável, irracional. Um bom observador consegue perceber manifestações, decifrar personalidades, realmente conhecer outras pessoas, sem que essas se mostrem conscientemente a ele. É a já aceita linguagem corporal. Como você anda, o que você come, como vocêse veste, com quem você conversa, o que você faz; tudo isso é expressão da sua personalidade, do seu ser.

Isso seria muito simples, se não houvessem outros seres rondando o mundo, manifestando-se, e percebendo o resto dos seres, cada um do seu jeito. Os olhos que percebem o mundo também são os olhos que mostram o observador ao mundo. Nós vemos o mundo da mesma forma que vemos a nos mesmos. Gente bondosa acredita que todos são bondosos e o malandro dorme com um olho aberto (para se proteger do outro olho). Sendo assim, a percepção de quem somos depende de quem nos observa e quem ele é. Isso é o que causa a maior parte dos conflitos entre os seres: as falhas de comunicação. O meu expressar-se livremente entra em choque com o seu expressar-se livremente e ambos acabam frustrados, pois ninguém consegue realmente se expressar, pois o que se está fazendo agora é somente colocar para fora o que se tem dentro, e não colocar dentro do outro o que se tem dentro de si. A forma como expressamos nossos sentimentos é essencial para que sejamos compreendidos pelo outro, por quem desejamos atingir.

Agora então temos os meios, inventamo-los em coletivo, desenvolvemos símbolos, sinais e idéias para expressar de forma coerente aquilo que somos, que sentimos. É claro que a forma limita os sentidos, mas somente simplificando o que sentimos é que podemos ser compreendidos. Entenda, cada indivíduo é tão maravilhosamente complexo que entendê-lo integralmente é um trabalho praticamente impossível. Muitas vezes nem o próprio ser se compreende, muito menos alguém externo a ele. Porém, existe um certo número de sensações primárias compreendidas por todos. Todo ser vivo entende o que é fome, ilustrando o que disse anteriormente. E o numero dessas sensações comuns (mesmo que simples) vai aumentando conforme a intimidade entre aquele que expressa e o seu alvo. Pessoas da mesma cidade se entendem melhor do que pessoas com realidades diferentes. Pode-se chegar a um ponto de intimidade em que um olhar é o suficiente para que o outro entenda o que queremos dizer. Isso é o que Stephen King chama de Khef.

Acho que estou começando a me aprofundar demais no assunto, e isso não é bom pois torna-se cansativo. Tentarei ser mais direto.

O nosso escritor antes de tudo é um ser. Ele então tem algo a expressar e o faz através de uma combinação de palavras (símbolos) que, apesar de limitarem seus sentimentos, são mais eficientes para que o outro o compreenda. Entendendo isso, podemos finalmente voltar a afirmação feita no início do texto:

"Não se pode separar razão e emoção pois aquela é continuação desta. Agir somente pela emoção é expressar-se de forma crua, expondo-se a uma possibilidade maior de ser incompreendido. Enquanto agir puramente usando a razão é viver somente pela forma, pelas regras estéreis e sem vida. Em ambos os casos o resultado é a frustração."


Como alguns já devem esperar, isso é Cabala, sim. Na Cabala, o que chamei de ser, aprendi como consciência, o sentimento é a energia e a forma é forma mesmo. O processo de criação de todo o universo é um pouco mais complexo do que isso, mas entendê-lo, ou melhor, experimentá-lo, é um processo pessoal. Eu já tentei falar sobre isso no post Fiat Lux, mas confesso que não tive muito sucesso.

Acho que deu para entender que a razão é basicamente um filtro para as emoções e ignorá-lo é não desejar ser compreendido. E espero também que, por dedução já que não entrei muito nessa outra parte, tenha-se percebido que a razão pura é a negação do próprio ser, uma vez que usa-se um filtro para o vazio. Na Cabala, tem se um nome para isso: Klippoth, que é aquilo que chamamos de demônios, uma casca vazia, sem conteúdo.

Isso é, se você concordar comigo, é claro.


Explodingdog - this is what i was put on earth to do


PS: Na faculdade, eu a Silvia descobrimos que já que não podemos ter nossas próprias idéias para provar qualquer idéia (cientificamente falando), acabamos procurando autores que dizem exatamente aquilo que queremos.

PPS: Para a Cabala, o principio da energia (sentimentos) é masculino e o principio da forma feminino. Pano pra manga? Sim, claro!

6 Comments:

Blogger Mário Henrique disse:

Hum, não! Não deu pra entender o que você quis dizer, não.

Eu sei qual era a idéia do texto, mas ficou confuso, sim.

Bem, algum dia você
acerta.

terça-feira, 29 agosto, 2006  
Blogger Bruna disse:

Bom, Mário Henrique, eu discordo. Acho que deu bem pra entender o que o Marinho quis dizer. O assunto é complexo, mas está claro. Mais explicações seriam lições de pré-primário.

Marinho, seria, então, a palavra "temperança" a chave pro equilibrio entre razão e emoção?!

quarta-feira, 30 agosto, 2006  
Blogger Leósias disse:

E seria possível ficar íntimo, ou ter um khelf (se é q é assim q se escreve) c/ todo mundo???

quinta-feira, 31 agosto, 2006  
Blogger jan disse:

"Agir somente pela emoção é expressar-se de forma crua"

Pra MIM, usar a razão como filtro pra emoção, é usar de censura!

quinta-feira, 31 agosto, 2006  
Blogger Mário Henrique disse:

@Barbie - Sim, temperança. O equilíbrio entre o excesso e a castração. A glutonia e a anorexia. Apesar que não gosto muito de equilíbrio, prefiro balanço (tem mais moviemnto). =)

@Leosias - Ter um Khelf, um Rip-Curl, um Nicoboco, Alessio, você escolhe!

O nome certo é Khef, mas isso realmente não importa.

Se é possível ter Khef com o mundo inteiro, claro! Fio, esse é o objetivo da nossa religião (pelo menos daquela que ensinamos). Lembra-se? (para que todos sejam um?)

@Cinderela - Auto-censura é necessária para o amadurecimento do ser e a convivência em comunidade. Mas isso a gente já conversou pelotelefone.

quinta-feira, 31 agosto, 2006  
Blogger tOk disse:

Ia dizer uma coisa, mas me auto-censurei.

Viram como consigo conviver em comunidade.

Isso prova que os médicos estavam errados, huahuahuahuahuahua!!!

quinta-feira, 31 agosto, 2006  

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