Enquanto eu cagava #03
Dance Dance Dance
O texto "mundo cão", que escrevi tão recentemente, foi fruto de uma apresentação seguida de discussão em sala de aula. Tirando a parte sobre a Lya Luft e sobre os garotos pré-adolescentes, todo o resto foi primariamente discutido e apresentado na aula. O argumento sobre o mundo moderno e os mendigos, argumento esse que conclui o texto, nasceu a partir de uma pergunta da professora Magda e fluiu naturalmente, como resultado da discussão. Como uma coisa dessa acontece? Juro que nunca havia parado para pensar em tal assunto, muito menos comparar a incerteza da vida moderna com a vida dos moradores de rua. Então, como foi que eu pensei nisso? O que me levou a não perder o ritmo na discussão?
Pensando nisso, cheguei a perceber que o pensamento (e como ele flui, seja numa reflexão, discussão ou abstração) é muito parecido com a dança. A dança exige ritmo, o pensar exige lógica. Ambos exigem dedicação, entrosamento e amor. Para saber dançar, não precisamos saber os passos exatos, mas somente sentir o ritmo e nos entregar a ele. No pensar precisamos enxergar a corrente lógica, pular dentro dela e deixar-se levar. Solte seus pés, não fique duro, travado - é o que diríamos para alguém que não consegue dançar. A mesma coisa vale para o pensar. Deixar a cabeça livre para seguir é decisivo para se tornar um bom articulador de idéias (não é esse o princípio do brainstorming ?).
A idéia do texto já acabou, o que eu tinha para falar já foi dito. Mas, viajando um pouco mais nessa deliciosa analogia de pensar e dançar, consigo espremer um pouco mais de suco. Em algumas danças, um parceiro conduz o outro. Dizem que um bom condutor é essencial para uma boa dança. A mesma coisa para uma boa conversa. Se não houver alguém com um pouco mais de "senso crítico" (termo perigoso esse, não?), a coisa desanda, e a (potencial) maravilhosa conversa acaba virando um cospe-cospe de jargões do senso comum. Existem também aqueles que tem medo de se expressar na pista de dança, pois acreditam que não sabem dançar, e acabam seguindo os passos de outra pessoa, formando aqueles grupinhos de passinhos . Essa eu nem vou concluir, deixo a finalização da analogia por conta de vocês, somente acrescentando um anexo: já perceberam, que por mais ridículo que a gente esteja dançado, sempre aparece alguém predisposto a seguir nossos passinhos ?
Então boas danças para todos vocês, e terminando da forma mais brega possível, eu pergunto: quer dançar comigo?
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