17 março 2005

Muito ajuda quem não atrapalha

De todo o lixo cultural produzido ultimamente, o pior, de mais baixa qualidade e nocivo são os chamados livros de auto-ajuda. Esses supostos "manuais para uma vida melhor" conseguem, de tão ruins que são, destruir até a máxima que diz que se conselho fosse bom não se dava, se vendia. Bem, eles vendem conselhos, mas isso não adiciona nehuma qualidade a esses. Quem já leu algum livro de auto-ajuda sabe do que estou falando. Pra mim, o grande problema dos livros de auto-ajuda é que eu mesmo poderia os escrever. A linguagem é chula e simplista, os ensinamentos são superficiais e óbvios (mas tratados como perolas ocultas de sabedoria) e a conclusão sempre é aquela de que você pode fazer tudo o que quiser (desde que se siga os "x" passos descritos no livro).

Num ataque de bobeira, comprei um livro chamado "Eu mexi no seu queijo", por pura tiração de sarro. Mas como sou um cara que leva o sarrismo muito a sério, e valorizo muito o meu (da minha mãe, nesse caso) dinheiro, resolvi dar uma chance ao livro. Terrível, só isso posso dizer. Desde que comecei a estagiar no Banco do Brasil, criei um hábito muito bom de leitura. Minha meta é terminar o ano com pelo menos 12 livros lidos (um por mês), e já estou com meio ano garantido (sem falar em tudo que terei que ler para a monografia). Já li Stephen King, Shopenhauer, Benitez, Hemingway entre outros, mas o único livro que ainda não consegui terminar foi o bendito do "Eu mexi no seu queijo". Hoje dei mais uma chance para ele, mas depois do que li, acho que vou deixá-lo como está. Sintam o drama.

Em certo momento, o autor começa a satirizar outros livros de auto-ajuda (pois afinal ele não está escrevendo um livro de auto-ajuda, mas sim criticando-os ¿ até parece) e se prende no ponto comum de todos eles no qual se falam sobre as inevitáveis mudanças da vida e como se deve adaptar a elas para ser feliz. Até aí, tudo bem, o problema é ao final do capítulo quando ele nos dá o grande ensinamento sobre como lidar com essas mudanças. Quem tiver estômago, leia:

"Este é o meu conselho sobre como administrar mudanças: deixe um potinho de vidro na bancada da cozinha para, toda noite, quando chegar em casa, depois de esconder as suas chaves, depositar as moedas de maior valor do dinheiro trocado. Sugiro que você doe as de menor valor para os necessitados, ou se livre delas jogando-as em cima do painel do carro. Sempre faço isso, o que talvez explique porque o rádio do meu carro vive sendo roubado. Meu bom amigo Chunko guarda as moedas numa velha meia de futebol, que deixa debaixo do travesseiro para sua própria proteção à noite. E olha que ele bem que precisa: sua mulher ainda não o perdoou por ele dar cantadas em mulheres de cara amarrada no supermercado.
Lembre-se: mudanças são inevitáveis, mas, a menos que você saiba lidar com elas, estufarão seu porta-níqueis, formando uma protuberância bastante antiestética nas suas calças."


Entenderam? Bem, confesso que de início também não, mas foi então que resolvi pensar no texto original (levando em conta que o tradutor seja tão idiota quanto o autor) e veio a resposta. Sim, como você já percebeu, mudança em inglês é change, a mesma palavra usada para trocado (comumente entregue em moedas). Então nosso grande sábio estava fazendo um dos trocadilhos mais sem graça de todos os tempos. Quando cheguei a essa conclusão, uma nova dúvida me invadiu: Seria o tradutor realmente um incompetente, ou uma alma bondosa, que percebendo o péssimo texto que possuía para traduzir, resolveu proteger o leitor de tamanha idiotice?

PS: Percebam que meu estilo não é muito diferente do estilo do autor. E isso obviamente é sinal de má qualidade. Porém, eu não cobro nada!