Divagando no busão
Interessantes são as idéias que nos surgem quando estamos em estado de espera. Enquanto aguardamos alguém chegar, ou durante uma viagem, nossos sentidos recebem todo tipo de imagens e sons e coisas muito interessantes acontecem quando nos deixamos levar por esses rios criados em nossa cabeça por essas sensações.
Hoje, vindo para o banco, peguei um ônibus não muito cheio, mas sem nenhum banco para sentar. Eu tenho a mania de não passar para o outro lado da catraca se isso não for necessário. Gosto da parte da frente dos ônibus, é mais vazia e sempre sobra algum espaço para eu sentar - o que não aconteceu hoje. Num dos primeiros acentos, no assento da janela, estava uma garota linda. Sua beleza misturava aquilo que chamo de beleza óbvia - os paradigmas de beleza, no caso dela, loira e pele branca; e também tinha um pouco de beleza pessoal, ou oculta. A beleza pessoal é aquela que se encontra na postura, na forma como mexe o cabelo, no sorriso, na essência da pessoa - sem nenhuma ligação direta com a beleza interior. Ou seja, a beleza pessoal é aquilo que comumente chamamos de charme. E aquela garota tinha muito charme, mesmo dormindo. Aliás, por estar dormindo, pude observá-la muito mais do que minha normal timidez permitiria.
Eu, por ser um maldito idealista, sempre valorizei (em meus discursos) a beleza interior. Para mim, a beleza natural das pessoas não poderia ser valorizada uma vez que ela era resultado de um acidente, e não da própria vontade da pessoa. Ninguém escolhe nascer lindo - e quem é lindo, nasce assim. Mas, olhando para aquela garota dormindo igualzinho a um bebê, atirei todos meus ideais pela janela. Ela era linda, e "beleza é fundamental", né Vinicius? Mesmo quando ela tirou um lenco de papel improvisado do bolso e roçou o nariz, ainda meio dormindo, foi lindo. E acho que é assim a beleza, somente é. A gente sente, não explica.
De repente, me pego pensando no logotipo que fiz para a Vivian, namorada do Gustavo. Era um logotipo criado para um vídeo de formatura (algum evento, na verdade) que elas deviam editar e entregar como um trabalho para a a faculdade. Turismo, a Vivian faz Turismo (quero dizer, o curso de verdade, e não que ela é uma aluna que somente aparece nas aulas de vez em quando). Comecei a pensar no motivo de alguém que faz turismo ter que editar um vídeo, e vários outros trabalhos que fiz na faculdade, que aparentemente não tinham motivo de existir, passaram pela minha cabeça. Lembrei me do discurso de vários professores que diziam que aquilo seria importante pois era bom conhecer todo o processo, mesmo aquela parte que não nos cabia fazer. Uma desculpa plausível, mas não verdadeira. Como professor, ou pelo menos pensando como um, percebi que a confecção de aulas não é totalmente voltada as necessidades do aluno, ou vocês realmente acreditam que todas as matérias tem conteúdos exatos que cabem perfeitamente no ano letivo? É claro que existe muita "encheção de lingüiça", muitas aulas preparadas estrategicamente para passar o tempo de uma forma dissimulativa e "interessante".
Ao perceber isso, vi que muitas outras coisas na vida são assim. Parecem super necessárias, trabalhosas, grandiosas - mas é tudo placebo. Alguém aí assistiu o Mágico de Oz? Não? Então vá ver agora, eu espero...............ok, depois você faz aquele esquema de ouvir junto com Pink Floyd, voltemos ao filme. A cena crucial do filme acontece quando Dorothy e sua gangue então no salão do Mágico de Oz e se deparam com uma gigantesca cabeça com fumaça por todos e uma voz grave e berrante que se autoproclamava o Mágico de Oz. Do lado da cabeça, uma porta (acho que era uma cortina) por onde eles entram e descobrem que tudo aquilo não passava de uma série de efeitos criados por um homenzinho, o verdadeiro mágico de Oz. Ou seja, as coisas parecem muito maiores por aqueles que nunca olharam para dentro da porta, aqueles que não conhecem as coisas como elas realmente são. Então eu dividi o mundo em duas partes, antes de olhar dentro da porta e depois de olhar dentro da porta. Na primeira, o mundo parece um lugar maravilhoso e as possibilidades são bem maiores. O mundo antes de olharmos através da porta é um mundo maravilhoso, mas ao mesmo tempo assustador. O mundo após o vislumbre do interior da porta é algo totalmente diferente. Nele, nós não mais sonhamos, nós conhecemos. No mundo após a porta, não existe fé, mas sim experiência, vivência. Porém, o mundo após a porta é um lugar entediante para aqueles que não sabem ousar, inovar, criar.
Então o ônibus já está quase chegando ao seu destino. E minha loirinha ainda dorme e eu ainda não arranjei um lugar para sentar. Sabe, haviam alguns vazios na frente, mas também haviam pessoas frente a eles - no melhor tipo "guardando caixão". Eles desejavam sentar-se nos lugares, mas tinham medo de que algum idoso aparecesse e tivessem que sair - igual ao fenômeno dos acentos cinza do metrô, sabem? Cara, já entrei em algumas brigas por causa desses lugares da frente. Com velhinhos é claro, sempre com eles. Da última vez, eu, dormindo (como sempre) no banco, desperto e ouço uma conversa de duas senhoras que reclamavam os bancos como sendo somente seus e que os jovens não tinham respeito e toda a ladainha básica. Desta vez eu me irritei, virei para elas e disse:
- Minha senhora...
- Olha só como ele fala.
Parece ridículo, mas foi bem assim, e o resto da conversa não mudou muito não. Ela me disse que os lugares eram delas e eu disse que ainda haviam lugares disponíveis na frente para qualquer idoso que quisesse se sentar. Ela retrucou dizendo que ela poderia querer sentar no meu lugar e blá blá blá. Tentei me explicar, pois eu sentava na frente para economizar dinheiro, caso precisasse pegar outra condução (e naquele dia eu precisava), mas não foi muito longe a conversa pois ela começou a atacar meu pai e minha mãe (que lindo!) e eu resolvi passar a catraca.
Desde que comecei a andar de ônibus regularmente (desde que comecei a trabalhar), venho criando uma certa raiva pelos idosos que freqüentam as conduções. Na verdade, só de um tipo deles, pois os velhos vem em dois formatos: o vôzinho querido e o egoísta com mania de perseguição. Os vôzinhos são super divertidos e sempre querem que a gente fique bem. Para eles, não existem os direitos de idosos a não ser que necessitem muito deles. E nesses casos ele nem precisa reclamá-los, pois todos também querem o seu bem. Os outros são criaturas sem alma que pensam somente neles, arrogantes e desconfiados, os velhos pensam sempre em suas necessidades e acreditam que o mundo vai lhes servir porque devem para ele. Como se fosse nossa culpa por eles serem um frustados. Esses velhos são os restos de pessoas mesquinhas e solitárias do passado. Escória humana (existente em todas as idades).
Sete e vinte e cinco, chegamos na Praça da Sé, é hora de acordar. Minha menina se levanta e eu a sigo, nós pagamos a passagem e cada um parte para seu lado. A estética, o Mágico de Oz e os velhinhos ficam todos presos dentro daquele ônibus e minha mente agora se concentra agora somente em uma coisa: matar o tempo para que chegue logo uma hora da tarde, fim do meu expediente. Ei, tive uma idéia, que tal escrever um texto falando sobre tudo o que pensei na viagem para cá? Boa idéia!
Hoje, vindo para o banco, peguei um ônibus não muito cheio, mas sem nenhum banco para sentar. Eu tenho a mania de não passar para o outro lado da catraca se isso não for necessário. Gosto da parte da frente dos ônibus, é mais vazia e sempre sobra algum espaço para eu sentar - o que não aconteceu hoje. Num dos primeiros acentos, no assento da janela, estava uma garota linda. Sua beleza misturava aquilo que chamo de beleza óbvia - os paradigmas de beleza, no caso dela, loira e pele branca; e também tinha um pouco de beleza pessoal, ou oculta. A beleza pessoal é aquela que se encontra na postura, na forma como mexe o cabelo, no sorriso, na essência da pessoa - sem nenhuma ligação direta com a beleza interior. Ou seja, a beleza pessoal é aquilo que comumente chamamos de charme. E aquela garota tinha muito charme, mesmo dormindo. Aliás, por estar dormindo, pude observá-la muito mais do que minha normal timidez permitiria.
Eu, por ser um maldito idealista, sempre valorizei (em meus discursos) a beleza interior. Para mim, a beleza natural das pessoas não poderia ser valorizada uma vez que ela era resultado de um acidente, e não da própria vontade da pessoa. Ninguém escolhe nascer lindo - e quem é lindo, nasce assim. Mas, olhando para aquela garota dormindo igualzinho a um bebê, atirei todos meus ideais pela janela. Ela era linda, e "beleza é fundamental", né Vinicius? Mesmo quando ela tirou um lenco de papel improvisado do bolso e roçou o nariz, ainda meio dormindo, foi lindo. E acho que é assim a beleza, somente é. A gente sente, não explica.
De repente, me pego pensando no logotipo que fiz para a Vivian, namorada do Gustavo. Era um logotipo criado para um vídeo de formatura (algum evento, na verdade) que elas deviam editar e entregar como um trabalho para a a faculdade. Turismo, a Vivian faz Turismo (quero dizer, o curso de verdade, e não que ela é uma aluna que somente aparece nas aulas de vez em quando). Comecei a pensar no motivo de alguém que faz turismo ter que editar um vídeo, e vários outros trabalhos que fiz na faculdade, que aparentemente não tinham motivo de existir, passaram pela minha cabeça. Lembrei me do discurso de vários professores que diziam que aquilo seria importante pois era bom conhecer todo o processo, mesmo aquela parte que não nos cabia fazer. Uma desculpa plausível, mas não verdadeira. Como professor, ou pelo menos pensando como um, percebi que a confecção de aulas não é totalmente voltada as necessidades do aluno, ou vocês realmente acreditam que todas as matérias tem conteúdos exatos que cabem perfeitamente no ano letivo? É claro que existe muita "encheção de lingüiça", muitas aulas preparadas estrategicamente para passar o tempo de uma forma dissimulativa e "interessante".
Ao perceber isso, vi que muitas outras coisas na vida são assim. Parecem super necessárias, trabalhosas, grandiosas - mas é tudo placebo. Alguém aí assistiu o Mágico de Oz? Não? Então vá ver agora, eu espero...............ok, depois você faz aquele esquema de ouvir junto com Pink Floyd, voltemos ao filme. A cena crucial do filme acontece quando Dorothy e sua gangue então no salão do Mágico de Oz e se deparam com uma gigantesca cabeça com fumaça por todos e uma voz grave e berrante que se autoproclamava o Mágico de Oz. Do lado da cabeça, uma porta (acho que era uma cortina) por onde eles entram e descobrem que tudo aquilo não passava de uma série de efeitos criados por um homenzinho, o verdadeiro mágico de Oz. Ou seja, as coisas parecem muito maiores por aqueles que nunca olharam para dentro da porta, aqueles que não conhecem as coisas como elas realmente são. Então eu dividi o mundo em duas partes, antes de olhar dentro da porta e depois de olhar dentro da porta. Na primeira, o mundo parece um lugar maravilhoso e as possibilidades são bem maiores. O mundo antes de olharmos através da porta é um mundo maravilhoso, mas ao mesmo tempo assustador. O mundo após o vislumbre do interior da porta é algo totalmente diferente. Nele, nós não mais sonhamos, nós conhecemos. No mundo após a porta, não existe fé, mas sim experiência, vivência. Porém, o mundo após a porta é um lugar entediante para aqueles que não sabem ousar, inovar, criar.
Então o ônibus já está quase chegando ao seu destino. E minha loirinha ainda dorme e eu ainda não arranjei um lugar para sentar. Sabe, haviam alguns vazios na frente, mas também haviam pessoas frente a eles - no melhor tipo "guardando caixão". Eles desejavam sentar-se nos lugares, mas tinham medo de que algum idoso aparecesse e tivessem que sair - igual ao fenômeno dos acentos cinza do metrô, sabem? Cara, já entrei em algumas brigas por causa desses lugares da frente. Com velhinhos é claro, sempre com eles. Da última vez, eu, dormindo (como sempre) no banco, desperto e ouço uma conversa de duas senhoras que reclamavam os bancos como sendo somente seus e que os jovens não tinham respeito e toda a ladainha básica. Desta vez eu me irritei, virei para elas e disse:
- Minha senhora...
- Olha só como ele fala.
Parece ridículo, mas foi bem assim, e o resto da conversa não mudou muito não. Ela me disse que os lugares eram delas e eu disse que ainda haviam lugares disponíveis na frente para qualquer idoso que quisesse se sentar. Ela retrucou dizendo que ela poderia querer sentar no meu lugar e blá blá blá. Tentei me explicar, pois eu sentava na frente para economizar dinheiro, caso precisasse pegar outra condução (e naquele dia eu precisava), mas não foi muito longe a conversa pois ela começou a atacar meu pai e minha mãe (que lindo!) e eu resolvi passar a catraca.
Desde que comecei a andar de ônibus regularmente (desde que comecei a trabalhar), venho criando uma certa raiva pelos idosos que freqüentam as conduções. Na verdade, só de um tipo deles, pois os velhos vem em dois formatos: o vôzinho querido e o egoísta com mania de perseguição. Os vôzinhos são super divertidos e sempre querem que a gente fique bem. Para eles, não existem os direitos de idosos a não ser que necessitem muito deles. E nesses casos ele nem precisa reclamá-los, pois todos também querem o seu bem. Os outros são criaturas sem alma que pensam somente neles, arrogantes e desconfiados, os velhos pensam sempre em suas necessidades e acreditam que o mundo vai lhes servir porque devem para ele. Como se fosse nossa culpa por eles serem um frustados. Esses velhos são os restos de pessoas mesquinhas e solitárias do passado. Escória humana (existente em todas as idades).
Sete e vinte e cinco, chegamos na Praça da Sé, é hora de acordar. Minha menina se levanta e eu a sigo, nós pagamos a passagem e cada um parte para seu lado. A estética, o Mágico de Oz e os velhinhos ficam todos presos dentro daquele ônibus e minha mente agora se concentra agora somente em uma coisa: matar o tempo para que chegue logo uma hora da tarde, fim do meu expediente. Ei, tive uma idéia, que tal escrever um texto falando sobre tudo o que pensei na viagem para cá? Boa idéia!
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