06 março 2006

Mais uma vez - o amor.

O ato de amar é eterno. Era isso que dizia o adesivo colado no carrinho de pipoca em frente ao Shopping Jardim Anália Franco. Era um adesivo simples, de certa forma brega. Lembra um pouco aquela folhinha presa à parede no início (e no final) do clipe "Corpo Fechado" do Nasi. O ato de amar. Pronto, está aí uma coisa que me vem cutucando a mente a algum tempo e que não sussega enquanto não for entendido, como a unha encravada do meu pé esquerdo: as vezes esqueço dela, mas basta uma topada de leve que ela volta com força total. E não adianta tentar esquecer. Se não cavocar e arrancar de uma vez, não vai sumir sozinho.

Há alguns dias, pensando sobre o bendito do amor, comecei a imaginá-lo, não como um sentimento, mas como um ato, um verbo. Sabe, o amor não é algo passivo, não é um sentimento. Ninguém sente amor por alguém, nós amamos alguém. Diferente de raiva, ciúmes, paixão, tesão, frio, calor, e outros sentimentos, o amor é um ato. Amar é preocupar-se, é cuidar, é estar presente, mesmo quando ausente. Amar é pensar, conhecer, desistir e insitir. O amor é o coletivo de todos os verbos!Então eu posso dizer que o adesivo estava certo quando disse: o ato de amar.... Agora, será que o ato de amar é eterno?

Quando eu penso no amor, penso na entrega, na negação da própria vontade em função do amado. O amor não pede posse, e nisso é eterno, pois todas as posses se perdem algum dia. Então o amor é livre. O amante só o é realmente quando liberta o amado de seus desejos de dominação e eterna servidão. O amor não busca objetivos, mas isso não o torna eterno. Quando se ama, se ama a vida, pois onde existe o amor, existe o desejo de vida ao amado, porém, só existe vida onde existem mudanças. Viver é modificar e ser modificado. A existência é dinâmica e as pessoas que fomos ontem, não são as pessoas que seremos amanhã. E isso também se aplica aos nossos amados. Quando escolhemos alguém para amar ou não outro, estamos discriminando (diferenciando) o ser amado dos outros. Se isso acontece, deve haver (e ) algum motivo, alguma particuliaridade no amado, que o faça ser escolhido entre todos os outros seres vivos, mesmo que o próprio amante não tenha consciência disso. O amado é único para o amante, mesmo que esse tenha outros amados. Mas, se a vida é dinâmica, e as pessoas mudam, como posso amar alguém eternamente, se o motivo pelo qual eu amo essa pessoa pode mudar? Por exemplo, se eu amo alguém pelo sorriso, e de repente essa pessoa perde todos os dentes, eu ainda a amaria? Ou, se eu amo alguém pela forma como essa pessoa vê o mundo, eu ainda a amaria se ela pensasse de forma diferente? Se ele mudasse de opinião? Se for assim, o amor não pode ser eterno. Mas, quando li o ato de amar é eterno, não encontrei nada que dizia sobre amar alguém. Pode ser que o amor não seja algo direcionado a alguém, mas somente algo que se faz. Como respirar. Sendo assim, meu xará estava certo, amar é verbo intransitivo sim. Nós amamos como vivemos, como andamos, sem direção e sem nunca entender o porquê.

Será isso realmente o amor? Meu livro favorito diz que o amado é uma gota por onde os raios do sol brilham, transformando-se em diamantes, por onde toda a beleza é mostrada. Eu concordo com isso, porém, ele também diz que essa gota pode cair, e o amado perder seu brilho. Não quero concordar com isso. Prefiro o adesivo brega a aceitar que tudo o que vivo no amor não passa de um jogo de espelhos. Sem falar que amar, nessa forma, é um sentimento. E sabemos que o amor é um ato. É uma decisão, um gesto concreto. O amor existe porque eu o faço presente. O amor existe, porque eu amo. Se ele é eterno, não consigo responder ainda. Eu teria que viver toda a eternidade antes pra saber responder isso, mas, se existe algo capaz de durar tanto tempo assim, isso, com certeza é o amor. Posso então não amar durante toda a eternidade, mas amarei sim enquanto existir.


its so dark - exploding dog

2 Comments:

Blogger Leósias disse:

Caraca...

Sem palavras...

Aliás, não sei se vc se lembra de algo q me perguntou na níver da Carol e eu não tinha feito. Bem, eu fiz...

terça-feira, 07 março, 2006  
Anonymous Anônimo disse:

Eu acho que de certa forma você tem razão. Mas amor mesmo de verdade, é uma experiência bem pessoal. Pra mim amor é aquele que você tem por alguém que nem de longe você acha perfeito. Quando você conhece as limitações e a força de uma pessoa. Quando você não desiste do seu amor nem mesmo quando talvez fosse melhor pra você. Amor pra mim, pode ser eterno com certeza. Mas você tem que estar ciente que esta, é uma escolha que se faz todos os dias. Todo dia você tem que decidir se fica ou se vai embora. Não adianta pensar que você vai escolher alguém apenas uma vez e deixar que Deus cuide do resto. Você tem que estar sempre disposto a olhar para o objeto do seu amor. Se você realmente olhar pra ele, sempre vai achar um motivo pra continuar... Não existe nada mais bonito pra se viver!!!

Mas é claro que um sorriso lindo desperta o desejo...

Bjs

terça-feira, 07 março, 2006  

Postar um comentário

<< Home