09 maio 2006

Intimidade

Os relacionamentos humanos são complexos e quem ignora suas nuances muitas vezes se priva de seus deleites.
Quanto mais, e melhor, tempo passamos juntos a uma pessoa, mais adquirimos gosto pela sua companhia. Existem casos em que esse gosto surge quase instantaneamente, e não são raras as vezes em que isso ocorre em ambos, mas somente o tempo e a experiência de diversas situações criam um laço forte de comunhão e amor entre essas duas pessoas. É isso que chamo de intimidade.

A experiência humana, a vida de cada pessoa, é grande demais para ficar guardada e desconhecida de outros, além da própria pessoa. O ser humano tem um desejo intrínseco de viver e compartilhar essa vida. Não somos ermitões, somos seres sociais, precisamos viver em sociedade e usufruir tudo o que ela nos tem a oferecer. Porém, a sociedade não nos é suficiente, queremos nos encontrar nessa grande massa de pessoas e, por isso, nos aproximamos daquelas que mais se igualam aos nossos anseios e caráter. Freqüentamos então uma religião, associamos-nos a um partido político ou a um time de futebol, atendemos a uma escola, formamos grupos de amigos com interesses comuns (como música, quadrinhos, moda, comportamento) e a cada momento, nossa experiência social é ampliada, ao mesmo tempo em que se torna mais íntima. Dentro desses grupos, ou talvez dentro de algum outro criado especialmente, existem pessoas que se destacam. São essas pessoas que tomarão maior parte do seu tempo, que serão conhecedoras dos seus maiores medos, será para elas que você se voltará quando estiver assustado ou irritado, será nelas que você pensará quando estiver tendo um dia feliz (isso éclaro, se essas pessoas já não estiverem ao seu lado). Elas são seus amigos, elas são íntimas suas. Você as ama e elas a você. Algo verdadeiramente sublime e especial. E exatamente por isso, algo complexo e perigoso.

Não desejo aqui, guiar e convencionar as amizades, principalmente na parte que se doa, mas sim discutir um pouco sobre a suposta liberdade que a intimidade nos oferece. Muitas pessoas acreditam que intimidade significa poder agir com maior conforto, e menos cuidado, com aqueles que somos íntimos. Não vou negar isso, porém, quanto mais intimo de uma pessoa, maior é o peso de suas atitudes. Em uma cena do filme "Cleópatra", Júlio César ensina seu filho Ptolomeu XV, um garotinho então, sobre a severidade com que se deve tratar os íntimos. Não me lembro direito o diálogo, mas era algo do como: "Filho, se um inimigo vem e pede perdão por suas dívidas, o que você faz?", diz César. "Está perdoado", diz o pequeno Ptolomeu. "Agora, continua César, "um grande amigo lhe pede perdão por um erro que cometeste". "Atirem-no aos leões", brada o garoto. Sim, sei que pode soar agressivo e bruto, mas não diz a mesma coisa Jesus em Mt 18:18, e Krisnha não incita o príncipe Arjuna matar seus parentes. Tudo aquilo que for próximo e não nos fizer bem, acabará por nos envenenando. Agora, você, que goza da intimidade de uma pessoa querida, não acredites que a carta branca que possui será eterna. A posição que lhe é dada, pode ser retirada, por isso, não julgue como certo a amizade que você conquistou. Os amigos são os maiores bens que possuiremos em toda nossa vida, por isso, devemos tratá-los com o maior respeito possível. Aí sim, seremos dignos de sua amizade, aí sim, estaremos usando nossa intimidade de forma benéfica. Pois o vírus que mata, a peste que corrói, estas também são intimas do doente. Uma das imagens mais conhecidas do universo católico é a imagem de Jesus Cristo batendo a porta. A porta não tem maçaneta. Não se louve da intimidade que lhe é dada, mas conquiste-a diariamente e seja digno dela.

"Tu te tornas eternamente responsável..." Ah, vocês já entenderam.


explodingdog - god called in sick today

9 Comments:

Anonymous Anônimo disse:

Engraçado que me deram conselho do tipo dia desses. Muito boa a colocação da conversa entre César e o Filho.

terça-feira, 09 maio, 2006  
Anonymous Anônimo disse:

concordo com Júlio César. e tem uma música do AFI com o mesmo nome dessa figura do exploding dog, mt boa a musica

quarta-feira, 10 maio, 2006  
Blogger Leósias disse:

Hum...

Bem pensado, mesmo c/ o final brega, hehehehehe...

quarta-feira, 10 maio, 2006  
Blogger Mário Henrique disse:

Nossa, eu também achei o final muuuito brega. Mas todos temos que aceitar nosso lado brega, não é?

quarta-feira, 10 maio, 2006  
Anonymous Anônimo disse:

bem, vamos chamar de paragrafo qdo vc pula de linha. Até o segundo eu estava pensando: "pow, agora sim os textos INTERESSANTES e reflexoes legais das quais o Mario é capaz". Mas aí vc zoa tudo no ultimo parágrafo! O texto está ótimo e eu fique balançando a cabeça (tipo concordando) até que começa o terceiro parágrafo. Porque eu não concordo com ele. Mas mesmo assim, tanto esse qto o anterior ficaram ótimos, daqueles que dá vontade de ler.

quarta-feira, 10 maio, 2006  
Blogger Leósias disse:

Notem q eu disse final brega, não final ruim. Hehehehehehe...

quarta-feira, 10 maio, 2006  
Anonymous Anônimo disse:

Olá Mario

Bom não nos conhecemos mas eu tenho urgência em falar com vc, eu sei que isso pode parecer meio estranho, mas minha intuição esta me dizendo que podemos nos ajudar em um determinado assunto...
Não quero que fique confuso, me adicione no msn e eu vou explicar tudo
anna.daddario@hotmail.com
=*
Até

quarta-feira, 10 maio, 2006  
Blogger Mário Henrique disse:

Se eu tiver saco, reescrevo o final... mas o que eu acho ruim nele são somente as palavras usadas, que julgo muito brandas e até melosas.

Já era para eu ter feito uma revisão no texto, porém o w.bloggar estava dando problemas (viu, ninguém é perfeito).

Elisa, é óbvio que você não ia concordar com o terceiro parágrafo. Um dos motivos que me levaram a escrever esse texto foi uma atitude contrária sua.

quinta-feira, 11 maio, 2006  
Anonymous Anônimo disse:

Ultimamente tenho vontade de ler textos muito grandes...

quinta-feira, 11 maio, 2006  

Postar um comentário

<< Home