12 agosto 2004

O Caos em Poucas Palavras

O caos, ao contrário do obvio, não é a desordem e abrir a mente para isso é meio caminho para entendê-lo. A ordem, aliás, surgiu a partir do caos. O caos pode ser traduzido simplesmente como vontade, ou melhor, como a vivência e manifestação de todas e quaisquer vontades e a harmonia entre elas.


O problema

Todos somos livres, todos podemos fazer o que queremos, quando queremos e sem necessidade de justificativa. O universo é um playground e o ingresso é gratuito. "Nada é verdadeiro, tudo é permitido" - diriam os caoístas.

Se todos podem tudo, o choque de vontades é inevitável, não? Imagine dois carros querendo passar pela mesma rua, na mesma faixa, na mesma velocidade e na mesma hora. Como isso aconteceria sem uma possível colisão? Ou pense em todas as vezes que você já quis que o mundo inteiro lhe obedecesse. Agora esqueça a idéia de dominar o mundo, você não quer mais isso. Seu ideal agora é viver na praia tomando água de coco. Maravilha, não? O problema é que outra pessoa ainda quer dominar o mundo todo - incluindo você. Ela quer lhe dar ordens e quer que você a obedeça. Isso o deixaria satisfeito?

Uma forma obvia de evitar que coisas assim acontecessem seria simplesmente respeitar as vontades alheias e ser respeitado em volta. Simples, não? É só não obrigar ninguém a fazer nada que ela não queira, certo? E é isso mesmo. Porém o universo não é tão simples assim e o choque de vontades existe desde o big bang e até hoje essa harmonia de vontades, o caos livre e pleno, permanece uma utopia.


A solução

Naturalmente algo deveria ser feito para que o choque dessas vontades fosse detido, ou pelo menos suavizado, para que eles não acabassem por se auto consumir. E algo naturalmente foi feito. A ordem foi instituída - de forma natural, como prega o evolucionismo - para que as vontades fossem controladas até que fossemos suficientemente conscientes do nosso verdadeiro potencial. A ordem é como um andador que, através das limitações, desenvolve nosso potencial para coisas maiores. Todas as leis do universo fazem parte da ordem. As leis da física, as leis da genética, leis morais e qualquer outra lei que possa existir. Adequando-se ao espaço e tempo, a ordem está presente em toda a parte como chiqueirinhos que protegem um bebê de se machucar.


O fim da ordem

A ordem nasceu para morrer, para deixar de existir. A ordem é o ovo do qual devemos nos alimentar e desenvolver, mas que devemos mais tarde nos livrarmos para continuarmos nosso crescimento. Isso não acontece, ou pelo menos ainda não aconteceu totalmente. Vivemos em uma sociedade dependente da ordem, viciada na ordem. Se isso não for mudado, ela provavelmente morrerá em sua própria placenta. Voltando ao exemplo do bebê e do andador, a ordem deve ser removida aos poucos para que a humanidade - e toda criação - continue seu processo de evolução.

Isso é uma tarefa difícil, Platão já imaginava as conseqüências de algo parecido em seu mito da caverna. Mas, querendo ou não, esse é o nosso dever. Temos que empurrar o Dumbo de cima da plataforma sem sua pena mágica para que ele perceba que é sua própria capacidade que o faz voar, e não algum artefato com poderes sobre-naturais.


O caos

O caos então nada mais é do que o nosso objetivo inicial: vivermos da forma que quisermos. Aquilo que chamamos de necessidades são somente pequenas tarefas que cumprimos para atingirmos nossos desejos. Somente comemos porque desejamos continuar vivendo, somente trabalhamos porque desejamos ter dinheiro, ou por que acreditamos naquilo que estamos fazendo. Não importam os motivos, eles sempre estão ligados às nossas vontades. Não existe nenhum objetivo em nossas vidas a não ser o de vivermos cada momento de forma feliz e satisfeita. Não existe linha de chegada. Seja livre e viva a vida da forma como quiser, e deixe - e encoraje - que todos façam o mesmo. Pois no final, como diria Sidmar: "A Natureza da Vida é o Caos".