04 março 2007

Sapato 36

Não era para eu estar escrevendo. Pelo menos não agora. Não era para eu estar escrevendo, pois era para eu estar fazendo um pavê neste momento, mas não estou. O motivo pelo qual escrevo é o mesmo pelo qual não estou fazendo pavê: minha mãe.

Minha mãe é do tipo de pessoa que atrasa a evolução natural das espécies pois não permite que nada se desenvolva sem que ela aceite. Ela é uma pessoa extremamente castradora e orgulhosa, fazendo com que seus filhos se sintam cada vez mais inúteis e incapazes de atingir qualquer resultado em alguma atividade que ela possua algum tipo de conhecimento (principalmente as tarefas domésticas). Desde sempre é assim. Lembro-me dela voltando do trabalho e correndo até a escola para buscar-nos. Lá, ela conseguia, ao mesmo tempo, carregar o material escolar meu e da minha irmã (duas maletas pesadíssimas) e nos segurar pelas mãos. Tarefa complicadíssima, não? Grande mãe, não? Não! Muito besta, na verdade. Nós carregávamos o material pela escola o dia inteiro. Por que diabos não conseguiríamos carregar até a nossa casa? Porque perto dela somos menos. Nesta época eu tinha 7 anos e minha irmã 9.

Os anos foram se passando e a sensação de conforto (ter alguém que faz tudo por você) foi mudando em sensação de incapacidade. Eu não lavava um prato sequer, nem varria a casa, nem porra nenhuma. E assim foi até um dia, lá pros anos de colegial, que ela, meu pai e minha irmã viajaram para o Guarujá, para cuidar de uma construção da minha mãe. Eu tinha que trabalhar, por isso fiquei em casa sozinho. Durante aqueles dias eu cozinhei, lavei a louça e o quintal, varri a casa e apenas não lavei minha roupa. Quando eles voltaram, senti-me como um Deus. Eu sabia, eu podia, eu fazia! Pura ilusão, no dia seguinte a chegada deles, resolvi lavar o quintal. Minha mãe resolveu "ajudar". Ao final, ela gritava até espumar no canto da boca, pois eu não queria lavar o quintal do jeito que ela queria que eu lavasse. Porque se é pra fazer, tem que fazer do jeito certo, não?

Não vou estender meu lamento, mas eu sei que todo o progresso que atingi em tarefas domésticas e culinária, foi longe da minha mãe. Eu tenho várias histórias como a de cima. Neste momento, como já disse, escrevo pois não posso fazer pavê. E o pavê era para o aniversário da minha irmã. A receita fui eu quem arrumou, consegui com um pessoal do trabalho, e eu já havia feito anteriormente. Minha irmã tinha gostado tanto do pavê que havia pedido para que eu fizesse para ela de presente. Eu disse que sim. Portanto me programei para fazer hoje de manhã, apesar das reclamações da minha mãe, que queria fazer ontem a noite (desculpa moça, eu namoro no sábado à noite). Hoje eu acordo, desço até a cozinha e me deparo com duas gigantescas panelas com os cremes para o pavê.

É por isso que eu acho que o desenvolvimento só ocorre quando matamos nossos líderes e/ou mentores. Por favor, não sejam estúpidos ao pensar que falo de morte física.

Bem, era isso.

7 Comments:

Blogger Leósias disse:

Muita foda, mas real...

segunda-feira, 05 março, 2007  
Blogger Mário Henrique disse:

Estamos bem. Eu comi o pavê dela hoje. Realmente, o meu ficou melhor.

segunda-feira, 05 março, 2007  
Blogger Bruna disse:

Pode ter ficado melhor, mais saboroso e mais resistente, mas não foi o que a sua irmã pediu.

E o seu nunca vai melhorar.

Mas eu te entendo...

terça-feira, 06 março, 2007  
Anonymous Anônimo disse:

Hey, se vc quiser, pode vir aqui em casa pra cozinhar ajudar na faxina.
Minha mãe vai agradecer muito.

terça-feira, 06 março, 2007  
Blogger jan disse:

O Rodolfo é o melhor... rs.

terça-feira, 06 março, 2007  
Anonymous Anônimo disse:

Minha mãe é igual a sua, não deixa ninguém aqui de casa fazer as coisas. E se fizer, sai de baixo, reclama que a gente fez mal feito, que é pra ela fazer e bla bla bla, um saco!

terça-feira, 06 março, 2007  
Anonymous Anônimo disse:

Ha ha ha... como se esse relato de mãe fosse uma coisa muitooooo específica. Filho, essa é a descrição genérica da entidade "mãe".
Minha lembrança mais remota...eu tentando passar pano no chão do banheiro e...adivinha...não estava passando o pano da maneira correta. HUMPF.
Abraço!

quinta-feira, 08 março, 2007  

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