27 janeiro 2007

O Magista do Caos

- Mas, o que eu faço? disse desesperado.
- Me conquiste.

Madrugada de sexta para sábado, o chão ainda molhado pelo chuva e eu sentado no chão da calçada próximo ao bar onde estava. A briga tinha sido feia e eu não sabia onde a coisa toda ia acabar. Entrei novamente no bar e aguardei na mesa até ele voltar. Estava vendo a banda que tocava no outro ambiente e voltava todo animado:

- Tá ouvindo aquele som, mano? É só uma guitarra e uma bateria.
- É.
- Bem louco, não?
- Cara, vamos dar uma volta?
- Porra, as coisas pioraram?
- É.
- Vamo aê cara.

Nos despedimos de um outro cara que estava conosco. Ele também usava uma aliança de compromisso. Pensei em dizer meus pêsames, mas segurei a língua. Nós íamos para a praça, nosso local sagrado. Templo de conversas, viagens, momentos mágicos e dramáticos. Só agora, quando escrevo isso que me liguei: foi lá que o namoro começou.

Seguindo em direção a praça, passamos por um motel. Olhando para os muros do motel, vi um gato preto, lindo. Ela sempre quis um gato e eu nunca cogitei a possibilidade de termos um. Mas... Então eu estendi a mão ao gato, esfregando o dedão no médio e indicador, sussurrando esses com a boca, chamando o gato em minha direção. Ele começou a se aproximar, mas logo se assustou e se atirou entre as grades, entrando no motel. O gato havia fugido.

Continuamos nosso caminho, mas minha mente ainda estava com o gato. A idéia era perfeita. É claro que teríamos que conversar muito ainda para resolver os problemas, mas um gato era um gato oras. Não. Eu não estava pronto para desistir tão fácil assim eu queria o gato pra mim. Eu teria o gato, ou pelo menos não desistiria tão fácil assim. Eu parei a caminhada. Virei para ele e disse:

- Me arruma o gato.

Ele me olhava atônito.

- É cara, me arruma o gato. Você não é o Fodão do Caos, porra, me arruma o gato.
- Mas, cara...

Então ele percebeu que não tinha como não tentar. Ele sabia as minhas expectativas para o gato. Ele sabia o quanto era importante para mim e, principalmente, sabia que eu não ia arredar o pé.

Foi então que a gente começou a se aproximar do portão da garagem. Eu disse: "você não tem a menor idéia do que vai fazer, não?", mas tentei ter fé de que ele soubesse. Continuamos nos aproximando e então o portão da garagem começou a abrir. Eu me senti no "Porta da Esperança" devido a sincronia da porta com nossos passos. Dentro da garagem estava o gato e um pouco mais afastado havia um carro se preparando para sair. Juntei minha coragem e me aproximei novamente do gato. Este hesitou por um momento, mas acabou fugindo novamente. Ainda desesperado, voltei me para a atendente que trabalhava no guichê de saída do motel e disse:

- Me arruma o gato.
- Mas ele é daqui, foi o que ela respondeu.
- Tudo bem, obrigado.
- De nada.

Eu olhei para ele, frustrado, mas mesmo ainda descrente de que aquilo tudo havia acontecido. O pior de tudo foi ter chegado tão longe para não atingir o objetivo. Foi então que ele me explicou:

- Existem outras forças em jogo, não apenas a nossa. E, sem falar que, o gato já tinha dono.

Seguimos o nosso caminho, conversando, e, em menos de meia hora, chegamos à praça.

 

22 janeiro 2007

Hãn? Burguer!

Quando virei vegetariano (and heaven knows I'm miserable now), meu maior drama não era a questão do churrasco; da picanha sangrenta ou de toda aquela papagaiada. Na verdade, fiquei até bem feliz de não mais comer toda aquela carne. O que me deixou realmente triste foi não poder mais comer hamburgueres. Sim! Minha comida favorita em todo o mundo. Hamburgueres! Num surto de loucura, semana passada, cheguei até a atacar um lanche que o Quinho comia, só pra sentir novamente aquele gostinho maravilhoso. Foi então que hoje minha mãe apareceu com uma novidade (pra mim): Hamburguer de Soja. Isso mesmo, soja! Primeiro tive medo, coisas de soja não tem gosto de nada (ou como disse a Natália, a respeito de Nuggets de Soja: eles tem gosto de casquinha), mas a curiosidade foi maior e me arrisquei. Cara, é perfeito. O gosto é muito bom e um desavisado acredita que está comendo um hamburguer bovino. Eu havia pensado em abandonar o vegetarianismo, ou pelo menos voltar a comer carne (hamburgueres, leia-se) uma vez por semana. Mas agora... Hamburguer de soja é o canal.

Próximo passo: aprender a fazer hamburguer de caju.


Agora preciso convencer os caras do The Burguer a trabalhar com hamburguer de soja

 

11 janeiro 2007

CODA

Childe Roland To The Dark Tower Came

by Robert Browning
(1812-1889)
I.

My first thought was, he lied in every word,
That hoary cripple, with malicious eye
Askance to watch the working of his lie
On mine, and mouth scarce able to afford
Suppression of the glee, that pursed and scored
Its edge, at one more victim gained thereby.

II.

What else should he be set for, with his staff?
What, save to waylay with his lies, ensnare
All travellers who might find him posted there,
And ask the road? I guessed what skull-like laugh
Would break, what crutch 'gin write my epitaph
For pastime in the dusty thoroughfare,

III.

If at his counsel I should turn aside
Into that ominous tract which, all agree,
Hides the Dark Tower. Yet acquiescingly
I did turn as he pointed: neither pride
Nor hope rekindling at the end descried,
So much as gladness that some end might be.

IV.

For, what with my whole world-wide wandering,
What with my search drawn out thro' years, my hope
Dwindled into a ghost not fit to cope
With that obstreperous joy success would bring,
I hardly tried now to rebuke the spring
My heart made, finding failure in its scope.

V.

As when a sick man very near to death
Seems dead indeed, and feels begin and end
The tears and takes the farewell of each friend,
And hears one bid the other go, draw breath
Freelier outside, (``since all is o'er,'' he saith,
``And the blow falIen no grieving can amend;'')

VI.

While some discuss if near the other graves
Be room enough for this, and when a day
Suits best for carrying the corpse away,
With care about the banners, scarves and staves:
And still the man hears all, and only craves
He may not shame such tender love and stay.

VII.

Thus, I had so long suffered in this quest,
Heard failure prophesied so oft, been writ
So many times among ``The Band''---to wit,
The knights who to the Dark Tower's search addressed
Their steps---that just to fail as they, seemed best,
And all the doubt was now---should I be fit?

VIII.

So, quiet as despair, I turned from him,
That hateful cripple, out of his highway
Into the path he pointed. All the day
Had been a dreary one at best, and dim
Was settling to its close, yet shot one grim
Red leer to see the plain catch its estray.

IX.

For mark! no sooner was I fairly found
Pledged to the plain, after a pace or two,
Than, pausing to throw backward a last view
O'er the safe road, 'twas gone; grey plain all round:
Nothing but plain to the horizon's bound.
I might go on; nought else remained to do.

X.

So, on I went. I think I never saw
Such starved ignoble nature; nothing throve:
For flowers---as well expect a cedar grove!
But cockle, spurge, according to their law
Might propagate their kind, with none to awe,
You'd think; a burr had been a treasure-trove.

XI.

No! penury, inertness and grimace,
In some strange sort, were the land's portion. ``See
``Or shut your eyes,'' said nature peevishly,
``It nothing skills: I cannot help my case:
``'Tis the Last judgment's fire must cure this place,
``Calcine its clods and set my prisoners free.''

XII.

If there pushed any ragged thistle-stalk
Above its mates, the head was chopped; the bents
Were jealous else. What made those holes and rents
In the dock's harsh swarth leaves, bruised as to baulk
All hope of greenness?'tis a brute must walk
Pashing their life out, with a brute's intents.

XIII.

As for the grass, it grew as scant as hair
In leprosy; thin dry blades pricked the mud
Which underneath looked kneaded up with blood.
One stiff blind horse, his every bone a-stare,
Stood stupefied, however he came there:
Thrust out past service from the devil's stud!

XIV.

Alive? he might be dead for aught I know,
With that red gaunt and colloped neck a-strain,
And shut eyes underneath the rusty mane;
Seldom went such grotesqueness with such woe;
I never saw a brute I hated so;
He must be wicked to deserve such pain.

XV.

I shut my eyes and turned them on my heart.
As a man calls for wine before he fights,
I asked one draught of earlier, happier sights,
Ere fitly I could hope to play my part.
Think first, fight afterwards---the soldier's art:
One taste of the old time sets all to rights.

XVI.

Not it! I fancied Cuthbert's reddening face
Beneath its garniture of curly gold,
Dear fellow, till I almost felt him fold
An arm in mine to fix me to the place,
That way he used. Alas, one night's disgrace!
Out went my heart's new fire and left it cold.

XVII.

Giles then, the soul of honour---there he stands
Frank as ten years ago when knighted first.
What honest man should dare (he said) he durst.
Good---but the scene shifts---faugh! what hangman hands
Pin to his breast a parchment? His own bands
Read it. Poor traitor, spit upon and curst!

XVIII.

Better this present than a past like that;
Back therefore to my darkening path again!
No sound, no sight as far as eye could strain.
Will the night send a howlet or a bat?
I asked: when something on the dismal flat
Came to arrest my thoughts and change their train.

XIX.

A sudden little river crossed my path
As unexpected as a serpent comes.
No sluggish tide congenial to the glooms;
This, as it frothed by, might have been a bath
For the fiend's glowing hoof---to see the wrath
Of its black eddy bespate with flakes and spumes.

XX.

So petty yet so spiteful! All along,
Low scrubby alders kneeled down over it;
Drenched willows flung them headlong in a fit
Of route despair, a suicidal throng:
The river which had done them all the wrong,
Whate'er that was, rolled by, deterred no whit.

XXI.

Which, while I forded,---good saints, how I feared
To set my foot upon a dead man's cheek,
Each step, or feel the spear I thrust to seek
For hollows, tangled in his hair or beard!
---It may have been a water-rat I speared,
But, ugh! it sounded like a baby's shriek.

XXII.

Glad was I when I reached the other bank.
Now for a better country. Vain presage!
Who were the strugglers, what war did they wage,
Whose savage trample thus could pad the dank
Soil to a plash? Toads in a poisoned tank,
Or wild cats in a red-hot iron cage---

XXIII.

The fight must so have seemed in that fell cirque.
What penned them there, with all the plain to choose?
No foot-print leading to that horrid mews,
None out of it. Mad brewage set to work
Their brains, no doubt, like galley-slaves the Turk
Pits for his pastime, Christians against Jews.

XXIV.

And more than that---a furlong on---why, there!
What bad use was that engine for, that wheel,
Or brake, not wheel---that harrow fit to reel
Men's bodies out like silk? with all the air
Of Tophet's tool, on earth left unaware,
Or brought to sharpen its rusty teeth of steel.

XXV.

Then came a bit of stubbed ground, once a wood,
Next a marsh, it would seem, and now mere earth
Desperate and done with; (so a fool finds mirth,
Makes a thing and then mars it, till his mood
Changes and off he goes!) within a rood---
Bog, clay and rubble, sand and stark black dearth.

XXVI.

Now blotches rankling, coloured gay and grim,
Now patches where some leanness of the soil's
Broke into moss or substances like boils;
Then came some palsied oak, a cleft in him
Like a distorted mouth that splits its rim
Gaping at death, and dies while it recoils.

XXVII.

And just as far as ever from the end!
Nought in the distance but the evening, nought
To point my footstep further! At the thought,
great black bird, Apollyon's bosom-friend,
Sailed past, nor beat his wide wing dragon-penned
That brushed my cap---perchance the guide I sought.

XXVIII.

For, looking up, aware I somehow grew,
'Spite of the dusk, the plain had given place
All round to mountains---with such name to grace
Mere ugly heights and heaps now stolen in view.
How thus they had surprised me,---solve it, you!
How to get from them was no clearer case.

XXIX.

Yet half I seemed to recognize some trick
Of mischief happened to me, God knows when---
In a bad dream perhaps. Here ended, then,
Progress this way. When, in the very nick
Of giving up, one time more, came a click
As when a trap shuts---you're inside the den!

XXX.

Burningly it came on me all at once,
This was the place! those two hills on the right,
Crouched like two bulls locked horn in horn in fight;
While to the left, a tall scalped mountain... Dunce,
Dotard, a-dozing at the very nonce,
After a life spent training for the sight!

XXXI.

What in the midst lay but the Tower itself?
The round squat turret, blind as the fool's heart,
Built of brown stone, without a counter-part
In the whole world. The tempest's mocking elf
Points to the shipman thus the unseen shelf
He strikes on, only when the timbers start.

XXXII.

Not see? because of night perhaps?---why, day
Came back again for that! before it left,
The dying sunset kindled through a cleft:
The hills, like giants at a hunting, lay,
Chin upon hand, to see the game at bay,---
``Now stab and end the creature---to the heft!''

XXXIII.

Not hear? when noise was everywhere! it tolled
Increasing like a bell. Names in my ears
Of all the lost adventurers my peers,---
How such a one was strong, and such was bold,
And such was fortunate, yet, each of old
Lost, lost! one moment knelled the woe of years.

XXXIV.

There they stood, ranged along the hill-sides, met
To view the last of me, a living frame
For one more picture! in a sheet of flame
I saw them and I knew them all. And yet
Dauntless the slug-horn to my lips I set,
And blew. "Childe Roland to the Dark Tower came.''

Long days and pleasant nights...
...Say thankya.


 

08 janeiro 2007

Insônia

Estamos juntos, não sei o que estamos fazendo, mas parece um dia comum. Ela está fazendo algo que não consigo me lembrar o que era, mas lembro-me que resolvi acender as luzes para ajudá-la. Acendo-as. Ela não está mas lá. São três horas da manhã e eu me deparo com um grande vazio onde ela deveria estar. Só consigo voltar a dormir uma hora depois.

 

05 janeiro 2007

Um parágrafo

A primeira coisa que ela fez ao sentar-se no banco do metrô foi jogar um comprimido em suas mãos e engoli-lo com uma dose de água mineral. A água estava morna, mas ela nem percebeu. Sua cabeça ainda estava quente da discussão que tivera com seu noivo. Ex-noivo. Ela não sabia mais como seria daqui em diante, nem se haveria um daqui em diante. Ela tentou se acalmar e pensar em outras coisas, mas quando menos percebeu, já havia sido traída por suas mãos, que haviam vasculhado sua mochila e retirado as fotos que havia ido buscar na casa dele. As fotos lembravam momentos bons, aquela viagem à Salvador, uma festa Junina, o aniversário do avô. Momentos bons ao lado dele, momentos que não mais existiam e que ela sabia que nunca mais voltariam a existir, pois ela não voltaria mais; não desta vez. Foi então que ela percebeu que estava uma bagunça. Ainda estava com a roupa da balada da noite anterior e não havia dormido nadinha até aquele momento. Revirou a mochila novamente, agora conscientemente, e encontrou o espelhinho e o corretivo que buscava. “Puta!” Foi a lembrança que teve ao ver o pacote de camisinhas que ficou a mostra ao procurar o corretivo na mochila. Puta fora como sua mãe a chamara quando encontrara outro pacote de camisinhas entre as coisas de sua filha. Puta também foi como ele a chamou quando teve sua primeira crise de ciúmes. Crise que terminou em muitas lágrimas e um hematoma. Talvez ela realmente fosse uma puta, foi o que pensou. Ela olhou para o lado e viu um casal sentado no banco. A garota estava com a cabeça deitada no ombro do rapaz e, quando levantou sua cabeça, ela pode ver que os olhos da garota estavam vermelhos e que havia um gordo círculo verde escuro na camiseta verde clara do garoto, bem encima no ombro. Ela distraiu-se com a cena, sua curiosidade logo se aguçou e ela quis saber o que havia se passado, mas dispensou a idéia de sua cabeça. O mundo é um lugar péssimo para se viver, por todo lado que se olhe, existe tristeza e frustração. Ela novamente estava pensando em seus próprios problemas e novamente tentava buscar algo que a fizesse esquecer de si mesma. Retirou então um velho volume de sua mochila e abriu na primeira página. Ela havia ganhado o livro de um grande amigo, um antigo caso, e nunca conseguira passar da página 15, pois sempre havia algo mais importante para fazer. Desta vez, o livro era a última coisa que ela ainda tinha, sua réstia de alho, como dizia seu pai. Ela estava sozinha, perdida e desconsolada e tudo o que queria era que o comprimido que havia tomado fosse mais do que uma simples aspirina.

Mário Henrique
05/01/2007

 

02 janeiro 2007

O Hermetismo e as Piadas Internas

Tudo começou com uma noite de bebedeira e um deslize. Um conhecido meu, de nome Hermes, ao tentar dizer o que está no alto é de cima e o que está embaixo é de baixo, o relativo da época ao nosso uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, acabou dizendo: O que está embaixo é como o que está no alto, e o que está no alto é como o que está embaixo, o que gerou umas boas risadas aquela noite.

Na turma do Hermes, ninguém deixava um deslize passar e, da mesma forma que o Fabinho fazia na casa dele, a turma do Hermes registrava todas as palas que alguém preferia em tábuas. Ao final do ano eles decidiam quis eram as melhores e as premiavam. A de Hermes ganhou o segundo lugar e ficou sendo conhecida como Tábua de Esmeralda.

Séculos depois, uma turma que não curtia muito bebedeiras noturnas (apesar do costume ainda estar na moda) acabou encontrando a Tábua de Esmeralda. Como eles eram caretas e não sabiam aproveitar a vida, não entenderam a piada e tentaram encontrar algum significado secreto nela. Não demorou muito a se formar grupos de estudo da Tábua. Quanto mais os estudiosos se dedicavam a entender a Tábua, mais complexa ficava sua interpretação, sendo que somente os verdadeiros iniciados em seus segredos estavam aptos para compreender a beleza das revelações contidas nela. Pessoas importantes e poderosas também se interessaram pelos segredos. Alguns diziam que a vida eterna estava garantida para aquele que compreendesse a Tábua, outros diziam que riquezas fabulosas era a verdadeira recompensa. Assim os grupos foram crescendo e crescendo, os grupos viraram organizações e foram se dividindo, espalhando-se por toda a Europa, logo tomando o mundo inteiro. E hoje, milênios após a noite de bebedeira de Hermes, ninguém ainda entendeu que o Hermetismo não passa de uma piada interna.

Oh If I only see, that the joke was on me
- Bee Gees, I started a joke.


Explodingdog - oh my!