Este texto é uma continuação de um post da Cinderella; é um mero comentário, uma tentativa de diálogo. Comecemos onde ele termina...Eu hein!... Você hein! Todo mundo hein!
Os relacionamentos humanos homem/mulher estão desgastados, eu diria que ultrapassados. O grande motivo do excesso de infelicidade entre os casais é simplesmente a falta de uma nova perspectiva. Precisamos de um novo paradigma, pois a necessidade de amar (e ser amado); essa, meus caros, nunca sai de moda.
Qualquer um que possua um grupo próximo de amigos, e conheça intimamente um pouco dos segredos dos integrantes desse grupo, já deve ter se deparado com alguma história de traição. Não são incomuns, os casos em que isso ocorra entre os próprios integrantes desse grupo, que se dizem amigos. Elas estão por toda a parte. Os compromissos do namoro, noivado e mesmo o casamento, não são mais respeitados, porém, ainda são seguidos e socialmente incentivados. Um adulto com mais de 30 anos solteiro é alvo dos mais diversos comentários (sendo o favorito de todos classificá-lo imediatamente como homossexual). Encaremos os fatos, para ser visto como bem sucedido na nossa medíocre classe média, precisamos ser casados e ter filhos. Somente multi-milionários
bon-vivants e astros de rock tem o direito do contrário.
Então nós somos obrigados a criar uma família (nos moldes tradicionais), e, para isso, nos casamos. O namoro e o noivado, como foi
muito bem apontado pelo Leósias, não passa de "estágios" para coisas maiores, compromissos maiores. Uma grande ascensão social. Mas, será que o casamento, a união para o resto-da-vida de duas pessoas de sexos opostos, ainda é necessária?
Entendam, se não fosse um negócio lucrativo, ninguém se casava. Não falo apenas de dinheiro, mas nunca me esqueço da idéia de pagamento de dote, mas sim de necessidades. O objetivo inicial dos seres é reproduzir-se e fazer com que seus genes sigam em frente, e com os seres humanos, que se dizem
sapiens sapiens, não seria diferente. Aliás, isso chega até a ser uma ordem divina, segundo o Livro da Gênese (está tudo lá no
Gn 1:28). Bem, se Deus mandou, está mandado, porém, algo como o crescimento demográfico desenfreado na Terra, me diz que não precisamos seguir isso tanto a risca hoje em dia. Já existem pessoas suficientes na Terra e seria realmente interessante se esse número diminuísse.
"We don't need to multiply", como diria o System of a Down.
Um segundo motivo para essa formação de casais está na utilidade de cada um dos membros. Clareando um pouco as idéias: o homem traz o dinheiro e a mulher administra o lar (uma versão atualizada de: o homem caça enquanto a mulher cuida da prole). Antigamente podia-se dividir o futuro de uma mulher em três possibilidades: casar-se, virar freira ou prostituir-se. De qualquer forma, uma mulher raramente conseguia ter grande controle de sua vida. Com o homem, as coisas eram um pouco diferentes, e talvez seja por isso que um homem traído seja bem mais ridicularizado do que uma mulher. No antigo paradigma, homem e mulher se completavam para formar um time, um time que hoje em dia é desnecessário. Após a revolução sexual feminina e todas as lutas que elas tiveram que enfrentar para conquistar seu lugar, as mulheres começaram a não mais precisar de um homem para sobreviver (a não ser para trocar a lâmpada e matar baratas). Um mulher nos dias atuais, apesar das dificuldades ainda existentes, consegue muito bem ter sua própria fonte de renda e liberdade financeira. O homem tem aprendido a se virar nos afazeres domésticos e tem se mostrado excepcional nisso. Entre meus amigos é maior o número de homens que cozinham do que mulheres.
Percebam: estamos livres dessa obrigação de nos unir. Não existe nenhuma utilidade no casamento!
Até agora, acredito eu, que conseguimos entender que o casamento é uma obrigação social sem nenhuma real utilidade. Agora vem a pergunta: Nós queremos nos casar? Nós queremos nos unir a uma outra pessoa, tornando esse relacionamento único e exclusivo? Bem, a resposta varia. Para alguns a idéia é válida, para outros, não. Arrisco dizer que a maioria dos casos de infelicidade conjugal aconteça com casais que se unem por obrigação. Não digo que não aja amor entre eles, o amor pode realmente existir, mas o casamento, por ser algo forçado, acaba gastando esse amor, tornando-o inútil, como o
sal que perde o gosto.
Um outro fator que julgo causar a infelicidade da maioria dos casais está nos limites. O que diferencia dois amigos de sexo oposto de um casal são é a sexualidade, ou mais profundamente, o ato sexual (pois existem casos de flertes eternos entre amigos). Sendo assim eu crio uma exclusividade pelo corpo da minha parceira, mas não necessariamente uma intimidade. E é isso que chamamos hoje em dia de amor. Honestamente, não é o sexo que torna duas pessoas cúmplices de um romance, de uma entrega, de uma vida. Sexo não é comunhão, mas as vezes, um único olhar, em meio ao silêncio, é. O grande medo dos casais não é perder o amor do seu parceiro, mas sim descobrir que outro usufruiu desse mesmo amor. Se não houvesse o medo do sexo, nenhum casal teria receio das companhias do outro (principalmente as do sexo oposto). Seria tão bom se um casal se formasse com base em outras coisas. Os poucos que conseguem, esses sim são felizes.
Eu não saberia dizer qual o grande e nobre valor que deveria unir os casais. Para falar a verdade, eu acho que o desejo e vontade de estar junto já é mais que o suficiente, sem a obrigação de um amanhã. Aliás, eu acredito que nós valorizaríamos muito mais os nossos amores, se soubéssemos que eles podem partir a qualquer momento. Agora, falar eu sei que é muito fácil. Sou escorpiano bem definido e o ciúmes e a possessividade são características fortes na minha personalidade. O medo da rejeição e da solidão me corroem a cada momento, o orgulho e o ego são meus senhores e todas minhas ações são calculadas e refletidas. Digo isso para tentar ilustrar o quão difícil para mim é acreditar, e tentar seguir, essas idéias que escrevi. Mas eu não acredito que isso seja desculpa suficiente para que eu cometa os erros que apontei. O tão comentado "amor livre" não é uma coisa fácil, não se trata de libertinagem. E é por isso que Raul já dizia:
"Sofro, mas eu vou te libertar"